Amadeu Cardoso (professor de Geografia, do Projeto Teses e Projetos de Intervenção – Ensino Médio)
O Estudo do Meio do 2º ano do Ensino Médio tem por proposta o estudo das cidades contemporâneas, tendo como foco o espaço de experienciação da cidade de São Paulo e as diferentes possibilidades de leitura e de imersões em sua realidade. Durante um período de três meses, propomos o estudo continuado das cidades sob três matrizes diferentes – História, Geografia e Artes Visuais -, tendo como objetivo central a compreensão das cidades contemporâneas e sua experiência cotidiana.
Todo o processo do Estudo do Meio conjuga uma reunião de elementos complementares e conciliadores. Em primeiro lugar, a necessidade de exposição curricular do tema ligado à “geografia urbana do Brasil e do mundo” previsto no planejamento de Geografia para o Ensino médio, apresentando as características e os conceitos mais importantes dos processos de urbanização moderna e contemporânea.
Tendo como a base a previsão deste estudo, foi pensada a utilização de recursos diferenciados que permitiriam um maior envolvimento dos alunos, conjugado a um maior protagonismo dos mesmos, configurando de fato um processo de coautoria na construção desses conhecimentos acerca das cidades.
O percurso teórico apresentado vai ao encontro de reconstruir o conceito de cidade, analisando o fenômeno urbano ao longo da história. Esse panorama da cidade na história é apresentado partindo do uso de diversos bancos de informações disponíveis na internet. Os dois principais bancos baseiam-se numa compilação de imagens de cidades históricas, medievais, modernas, de forma a permitir ao aluno uma reconstrução visual delas e, em um segundo momento, o estudo dos planos urbanos ou mapas das cidades ao longo da história, buscando compreender as características das cidades em seu tempo, segundo seus desenhos, fortificações e traçados. Assim, revela-se uma ideia da cidade pensada e produzida por decisões e contextos sociais.
Todo esse material é organizado na internet, utilizando-se a plataforma wordpress como espaço de publicação desses recursos e suas referências bibliográficas, bem como de organização do professor para a sua própria sequência didática. O uso dos recursos da internet é fundamental como forma de difundir a informação, facilitar a sua consulta e o seu compartilhamento.
Toda a formação dos alunos nos temas da geografia urbana, bem como a preparação das saídas do Estudo do Meio, é fortemente apoiada na utilização de recursos visuais como elementos de estímulo aos alunos e, principalmente, de suporte para os exercícios realizados em campo que baseiam-se na utilização de mapas como elementos de orientação e da fotografia como ferramenta de registro e impressão do espaço urbano.
Após a fase de preparação teórica, os alunos passam por uma fase de pesquisa livre, que envolve a escolha de uma cidade qualquer do mundo para a apresentação de seus aspectos geográficos, históricos e culturais no formato de um seminário conjugado à confecção de uma apresentação multimídia. Essa pesquisa livre também funciona como mais um fator que gera o envolvimento dos alunos em seu processo de estudo, estimulando a sua curiosidade por conhecer mais um assunto que parte do seu interesse próprio.
Como o Estudo do Meio propõe uma imersão para um melhor conhecimento e, principalmente, uma experienciação com a realidade urbana, lançamos mão do método de investigação da Teoria da Deriva, proposta por grupos situacionistas, na qual o caminhar e o olhar não seguem um roteiro predefinido, mas, sim, as motivações geradas pelo ambiente sobre o observador, em que as áreas propostas de estudo são delimitadas, mas o percurso é construído espontaneamente pelo observador, de acordo com um processo de imersão no espaço urbano.
Como ferramenta de registro, os alunos utilizam-se da fotografia como elemento de captura de sua atenção à paisagem e posterior análise, compartilhada em um primeiro momento em sala de aula, a partir de um exercício de deriva realizado nos arredores da Avenida Paulista – uma espécie de ensaio e um momento desinibidor do olhar e do registro. Esse momento é realizado em grupo e organizado por eles mesmos, com data de deriva, horário etc. Apenas possuem um prazo para a sua execução.
Esse mesmo método de captura da cidade é realizado durante os três dias de saídas organizadas pela escola, por espaços distintos e escolhidos por suas especificidades, como o Brás e Bom Retiro, toda região central da cidade – dos limites com o Tamanduateí, Sé, São Bento, até as regiões modernas do Centro, como Anhangabaú, República e Estação da Luz. Por fim, analisamos a chamada pós-modernidade urbana ou cidade global-informacional, simbolizada pela região da Berrini, Vila Olímpia, e sua antítese territorial: o antigo município e atual bairro de Santo Amaro.
Todo o conjunto dos materiais de registros são analisados em sala e selecionados; a partir deles, temos a construção de um ensaio textual e de uma mostra fotográfica. É notável o diferente grau de envolvimento dos alunos neste processo de ensino e aprendizagem. A não fixação dos aspectos a serem observados e analisados no espaço da cidade potencializa e estima a capacidade deles em produzir conhecimento e originalidade descritiva, e mesmo analítica.
Neste ano de 2013, pretendemos ampliar as experiências já realizadas nos anos anteriores com um aprofundamento e maior integração entre as disciplinas que participam da preparação e atuação nas saídas: Geografia, História, Artes Visuais e, neste ano, Música, com um proposta de integrar o conceito e a vivência de paisagens sonoras.
Visite o blog do projeto: www.reverbe.net/cidades
Clique aqui e veja o livro com os ensaios fotográficos feitos pelos alunos: